5  Organização

5.1 Introdução

Neste capítulo, trataremos sobre a organização dos dados, seguindo o conceito conhecido como tidy data (dados arrumados), cujo objetivo é ajustar os dados em uma estrutura consistente e padronizada.

Normalmente, costuma ser trabalhoso o processo de organizar os dados, mas, com o auxílio das ferramentas do tidyverse, conseguimos obter bons resultados que, em longo prazo, nos permite ter mais tempo e facilidade para executar as etapas seguintes.

Como o próprio nome do pacote sugere, o tidyverse é baseado nos princípios de uma tidy data. Por isso, seus pacotes foram desenvolvidos para funcionarem seguindo tal princípio e serem complementares entre si.

No Capítulo 4, demos início ao processo de organização, seguido da importação dos dados ao R no formato de tibble. Neste capítulo, abordaremos com mais detalhes sobre o pacote tibble, além de apresentar outras ferramentas de organização dos dados, presentes no pacote tidyr.

Figura 5.1: A etapa de arrumar, ou organizar, os dados visa obter uma estrutura consistente e padronizada de dados, a fim de nos auxiliar nas demais etapas da ciência de dados.

Tanto o pacote tibble, como o tidyr fazem parte do tidyverse. Sendo assim, vamos carregá-los.

Os exemplos a seguir utilizam um mesmo conjunto de dados em diferentes formatações. Para fazer o download dos dados, clique aqui.

5.2 Tibble

No Capítulo 4 vimos que os pacotes readr e readxl apresentam funções que importam os dados ao R no formato de tibble e não em um data frame tradicional.

Isso se deve ao fato que ambos os pacotes seguem o padrão tidyverse, bem como a tibble, oriunda do pacote de mesmo nome (tibble). Dessa forma, os pacotes que seguem a lógica do tidyverse utilizam a tibble como o data frame padrão e não a sua versão tradicional1.

De maneira geral, a tibble apresenta as mesmas propriedades de seu análogo original, apresentando algumas melhorias e ajustes que facilitam o nosso trabalho. Dessa forma, os conceitos que vimos na Seção 3.10 e Seção 3.12 são válidos para a tibble.

Apesar da tibble também ser um data frame, neste material, utilizaremos o termo data frame apenas para nos referirmos à versão tradicional.

5.2.1 Converter em Tibble

Para converter data frames em tibble, utilizamos a função as_tibble(). Como exemplo, transformaremos o conjunto de dados nativo do R iris para o formato tibble.

class(iris)
#> [1] "data.frame"
iris_tibble <- as_tibble(iris)
iris_tibble
#> # A tibble: 150 × 5
#>    Sepal.Length Sepal.Width Petal.Length Petal.Width Species
#>           <dbl>       <dbl>        <dbl>       <dbl> <fct>  
#>  1          5.1         3.5          1.4         0.2 setosa 
#>  2          4.9         3            1.4         0.2 setosa 
#>  3          4.7         3.2          1.3         0.2 setosa 
#>  4          4.6         3.1          1.5         0.2 setosa 
#>  5          5           3.6          1.4         0.2 setosa 
#>  6          5.4         3.9          1.7         0.4 setosa 
#>  7          4.6         3.4          1.4         0.3 setosa 
#>  8          5           3.4          1.5         0.2 setosa 
#>  9          4.4         2.9          1.4         0.2 setosa 
#> 10          4.9         3.1          1.5         0.1 setosa 
#> # ℹ 140 more rows

class(iris_tibble)
#> [1] "tbl_df"     "tbl"        "data.frame"

Por padrão, a tibble mostra as dimensões da tabela (linhas x colunas) e a classe das variáveis entre <>, logo abaixo de seu nome.

Além disso, apenas as dez primeiras linhas são apresentadas e, caso o número de colunas não couber na largura da tela, essas são ocultadas da apresentação. Isso evita que a saída no console fique sobrecarregada de informações desordenadas, principalmente quando trabalhamos com um conjunto de dados extenso.

Caso seja preciso ter uma visão geral dos dados, podemos utilizar a função glimpse().

glimpse(iris_tibble)
#> Rows: 150
#> Columns: 5
#> $ Sepal.Length <dbl> 5.1, 4.9, 4.7, 4.6, 5.0, 5.4, 4.6, 5.0, 4.4, 4.9, 5.4, 4.…
#> $ Sepal.Width  <dbl> 3.5, 3.0, 3.2, 3.1, 3.6, 3.9, 3.4, 3.4, 2.9, 3.1, 3.7, 3.…
#> $ Petal.Length <dbl> 1.4, 1.4, 1.3, 1.5, 1.4, 1.7, 1.4, 1.5, 1.4, 1.5, 1.5, 1.…
#> $ Petal.Width  <dbl> 0.2, 0.2, 0.2, 0.2, 0.2, 0.4, 0.3, 0.2, 0.2, 0.1, 0.2, 0.…
#> $ Species      <fct> setosa, setosa, setosa, setosa, setosa, setosa, setosa, s…

Ou ainda, a função View() (vide Seção 3.10).

5.2.2 Criando Tibble

Também podemos criar uma tibble dentro do R com a função tibble().

tibble(
  nomes = c("José", "João", "Maria", "Ana"),
  sexo = c("M", "M", "F", "F"),
  idade = 21:24,
  idade_ao_quadrado = idade ^ 2,
  filhos = 0
)
#> # A tibble: 4 × 5
#>   nomes sexo  idade idade_ao_quadrado filhos
#>   <chr> <chr> <int>             <dbl>  <dbl>
#> 1 José  M        21               441      0
#> 2 João  M        22               484      0
#> 3 Maria F        23               529      0
#> 4 Ana   F        24               576      0

A construção de uma tibble segue a mesma lógica apresentada na Seção 3.10 quando criamos um data frame com a função data.frame(). Primeiro, designamos os nomes das variáveis e, posteriormente, o vetor com seus valores.

No exemplo acima, veja que foi possível criar a coluna idade_ao_quadrado em função de outra coluna, a idade. Na coluna filhos, passamos um vetor de tamanho 1, ocorrendo o processo de reciclagem (vide Seção 3.6), ou seja, foi atribuído o valor 0 para todas as demais observações até que se igualasse o número de linhas da tibble.

É possível colocar nomes de colunas com caracteres de sintaxe inválida (vide Seção 3.3), desde que os nomes estejam entre acentos graves (``).

No caso dos data frames, teríamos dificuldades em trabalhar com esse tipo de sintaxe, pois os nomes seriam convertidos para um formato que se enquadre à sintaxe válida, portanto, ocorreria uma alteração dos nomes designados originalmente.

A seguir, criaremos um exemplo de tibble (puramente a título de ilustração) com nomes que contêm espaços, começam com números e possuem caracteres especiais.

tibble(
  `nomes dos estudantes` = c("João", "José", "Sara"),
  `2sexo` = c("M", "M", "F"),
  `:)idade` = 21:23,
  `idade²` = `:)idade` ^ 2,
  `nº filhos` = 0
)
#> # A tibble: 3 × 5
#>   `nomes dos estudantes` `2sexo` `:)idade` `idade²` `nº filhos`
#>   <chr>                  <chr>       <int>    <dbl>       <dbl>
#> 1 João                   M              21      441           0
#> 2 José                   M              22      484           0
#> 3 Sara                   F              23      529           0

Por consequência, quando trabalharmos com as variáveis nomeadas dessa forma, precisaremos colocá-las sempre entre acentos graves, como foi o caso da construção da coluna idade², em que tivemos que colocar a coluna :)idade entre acentos graves para que conseguíssemos elevar seus valores ao quadrado.

Ainda que a tibble permita trabalhar com esse tipo de sintaxe, recomenda-se evitá-las, a fim de evitar o uso dos acentos graves a todo momento que formos referenciar uma coluna, tornando o trabalho mais fácil.

Por último, podemos criar tibble com a função tribble(). A tribble() é construída de maneira transposta ao formato convencional. Na primeira entrada, colocamos os nomes das variáveis começando com ~, separadas por vírgulas. Em seguida, colocamos os valores de cada observação. Esta opção é uma forma mais visual e intuitiva para construir pequenas tibble.

tribble(
  ~nome, ~idade, ~sexo,
  "João",  21  , "M",
  "José",  22  , "M",
  "Sara",  23  , "F"
)
#> # A tibble: 3 × 3
#>   nome  idade sexo 
#>   <chr> <dbl> <chr>
#> 1 João     21 M    
#> 2 José     22 M    
#> 3 Sara     23 F

5.3 Dados arrumados

Um mesmo conjunto de dados pode ser disposto de diversas maneiras. Os exemplos a seguir mostram três formas de organização. Os dados são referentes a produção (em toneladas) e a área colhida (em hectares) de milho, no Brasil, China e Índia, nos anos de 2000 e 2019.

library(readr)

read_csv(file = "dados/tidy1.csv")
#> # A tibble: 6 × 4
#>   pais     ano colheita  producao
#>   <chr>  <dbl>    <dbl>     <dbl>
#> 1 Brasil  2000 11890376  32321000
#> 2 Brasil  2019 17518054 101138617
#> 3 China   2000 23086228 106178315
#> 4 China   2019 41309740 260957662
#> 5 India   2000  6611300  12043200
#> 6 India   2019  9027130  27715100

read_csv(file = "dados/tidy2.csv")
#> # A tibble: 12 × 4
#>    pais     ano tipo         valor
#>    <chr>  <dbl> <chr>        <dbl>
#>  1 Brasil  2000 colheita  11890376
#>  2 Brasil  2019 colheita  17518054
#>  3 Brasil  2000 producao  32321000
#>  4 Brasil  2019 producao 101138617
#>  5 China   2000 colheita  23086228
#>  6 China   2019 colheita  41309740
#>  7 China   2000 producao 106178315
#>  8 China   2019 producao 260957662
#>  9 India   2000 colheita   6611300
#> 10 India   2019 colheita   9027130
#> 11 India   2000 producao  12043200
#> 12 India   2019 producao  27715100

read_csv(file = "dados/tidy3.csv")
#> # A tibble: 6 × 3
#>   pais     ano produtividade     
#>   <chr>  <dbl> <chr>             
#> 1 Brasil  2000 32321000/11890376 
#> 2 Brasil  2019 101138617/17518054
#> 3 China   2000 106178315/23086228
#> 4 China   2019 260957662/41309740
#> 5 India   2000 12043200/6611300  
#> 6 India   2019 27715100/9027130

Todos os exemplos são maneiras distintas de representar um mesmo conjunto de dados. Contudo, apenas uma delas é uma tidy data (ou base de dados arrumada).

Uma tidy data deve seguir três propriedades:

  • Cada variável possui sua própria coluna;

  • Cada observação possui sua própria linha;

  • Cada célula contém somente um único valor.

A Figura 5.2 ilustra, visualmente, as propriedades.

Figura 5.2: Seguindo os princípios da tidy data, cada variável possui uma coluna, cada observação está em uma linha e cada célula contém somente um valor.

Ao designar uma variável à uma única coluna, podemos trabalhar com as informações a partir de vetores individualizados. Portanto, os conceitos vistos na Seção 3.6, referente aos vetores, são aplicáveis a cada uma das colunas de uma base de dados organizada. E é a partir dessa lógica que os pacotes do tidyverse trabalham.

Dentre os três exemplos ilustrados anteriormente, apenas o primeiro caso ilustra uma tidy data.

read_csv(file = "dados/tidy1.csv")
#> # A tibble: 6 × 4
#>   pais     ano colheita  producao
#>   <chr>  <dbl>    <dbl>     <dbl>
#> 1 Brasil  2000 11890376  32321000
#> 2 Brasil  2019 17518054 101138617
#> 3 China   2000 23086228 106178315
#> 4 China   2019 41309740 260957662
#> 5 India   2000  6611300  12043200
#> 6 India   2019  9027130  27715100

Dessa forma, sempre que se deparar com um novo conjunto de dados, observe primeiro quais elementos são variáveis e quais são observações, e se uma célula contém um ou mais valores.

Nos próximos capítulos, veremos como utilizar uma tidy data para realizar transformações e gráficos. Mas antes, trataremos sobre os dados desarrumados2.

5.4 Pivotagem

Uma maneira de organizar os dados desarrumados é realizar a pivotagem. Este método converte as observações que estão como nome de colunas para linhas ou variáveis que estão em linhas para nomes de colunas.

Para isso, utilizamos duas funções do pacote tidyr: pivot_longer() e pivot_wider().

5.4.1 Alongando os dados

A função pivot_longer() converte as observações que estão como nome das colunas, para linhas. Com isso, a função torna a base de dados mais longa, ou seja, reduz o número de colunas e aumenta o número de linhas.

Aplicaremos sua função no arquivo tidy-producao.csv.

producao <- read_csv(file = "dados/tidy-producao.csv")

producao
#> # A tibble: 3 × 3
#>   pais      `2000`    `2019`
#>   <chr>      <dbl>     <dbl>
#> 1 Brasil  32321000 101138617
#> 2 China  106178315 260957662
#> 3 India   12043200  27715100

Veja que as observações referentes aos anos de 2000 e 2019 estão como nome das colunas, cada uma com os respectivos valores de produção de milho.

Para isso, devemos criar duas novas colunas, uma para alocar os anos e outra para os valores de produção de milho.

producao_alongada <- pivot_longer(
  data = producao,
  cols = c(`2000`, `2019`),
  names_to = "ano", 
  values_to = "producao"
)

producao_alongada
#> # A tibble: 6 × 3
#>   pais   ano    producao
#>   <chr>  <chr>     <dbl>
#> 1 Brasil 2000   32321000
#> 2 Brasil 2019  101138617
#> 3 China  2000  106178315
#> 4 China  2019  260957662
#> 5 India  2000   12043200
#> 6 India  2019   27715100

A função pivot_longer() apresenta os seguintes argumentos:

  • data = para indicar qual objeto desejamos pivotar;

  • cols = para selecionar as colunas que desejamos pivotar, ou seja, as colunas que não são variáveis (2000 e 2019);

  • names_to = dizemos para qual coluna os nomes selecionados em cols = devem ir. No caso, 2000 e 2019 são redirecionadas para a nova coluna de nome "ano";

  • values_to = dizemos para qual coluna os valores das colunas selecionadas em cols = devem ir. Portanto, os valores das colunas 2000 e 2019 são redirecionados para a nova coluna "producao".

Perceba que os valores se mantém associados às antigas colunas 2000 e 2019, agora como valores de uma observação.

Podemos fazer o mesmo com os dados referentes à área colhida, presente no arquivo tidy-colheita.csv.

colheita <- read_csv(file = "dados/tidy-colheita.csv")

colheita
#> # A tibble: 3 × 3
#>   pais     `2000`   `2019`
#>   <chr>     <dbl>    <dbl>
#> 1 Brasil 11890376 17518054
#> 2 China  23086228 41309740
#> 3 India   6611300  9027130

Para isso, devemos alterar somente o atributo do argumento values_to = para "colheita", além do nome do objeto a ser pivotado (data = colheita).

colheita_alongada <- pivot_longer(
  data = colheita,
  cols = c(`2000`, `2019`),
  names_to = "ano", 
  values_to = "colheita"
)

colheita_alongada
#> # A tibble: 6 × 3
#>   pais   ano   colheita
#>   <chr>  <chr>    <dbl>
#> 1 Brasil 2000  11890376
#> 2 Brasil 2019  17518054
#> 3 China  2000  23086228
#> 4 China  2019  41309740
#> 5 India  2000   6611300
#> 6 India  2019   9027130

A Figura 5.3 ilustra o funcionamento da função pivot_longer().

Figura 5.3: As colunas pivotadas são convertidas em valores de uma nova coluna. Consequentemente, seus valores também são alocados em uma nova coluna. Perceba que o conjunto de dados passa a ficar mais longo.

Para juntar ambas as tabelas, utilizamos a função dplyr::full_join(), a qual veremos com mais detalhes no Capítulo 8.

dplyr::full_join(producao_alongada, colheita_alongada)
#> # A tibble: 6 × 4
#>   pais   ano    producao colheita
#>   <chr>  <chr>     <dbl>    <dbl>
#> 1 Brasil 2000   32321000 11890376
#> 2 Brasil 2019  101138617 17518054
#> 3 China  2000  106178315 23086228
#> 4 China  2019  260957662 41309740
#> 5 India  2000   12043200  6611300
#> 6 India  2019   27715100  9027130

5.4.2 Alargando os dados

A função pivot_wider() é a oposta da pivot_longer(). Ela é usada para converter as variáveis que estão nas linhas, para o nome das colunas. Dessa forma, podemos dizer que a função deixa a base de dados mais larga, portanto, aumenta o número de colunas e diminui o número de linhas.

Como exemplo, utilizaremos o arquivo tidy2.csv.

producao_colheita <- read_csv(file = "dados/tidy2.csv")

producao_colheita
#> # A tibble: 12 × 4
#>    pais     ano tipo         valor
#>    <chr>  <dbl> <chr>        <dbl>
#>  1 Brasil  2000 colheita  11890376
#>  2 Brasil  2019 colheita  17518054
#>  3 Brasil  2000 producao  32321000
#>  4 Brasil  2019 producao 101138617
#>  5 China   2000 colheita  23086228
#>  6 China   2019 colheita  41309740
#>  7 China   2000 producao 106178315
#>  8 China   2019 producao 260957662
#>  9 India   2000 colheita   6611300
#> 10 India   2019 colheita   9027130
#> 11 India   2000 producao  12043200
#> 12 India   2019 producao  27715100

Neste caso, as variáveis colheita e producao estão como valores de observações. Portanto, devemos transformá-las em nomes de colunas, recebendo os respectivos valores associados à coluna valor.

producao_colheita_alargada <- pivot_wider(
  data = producao_colheita,
  names_from = tipo,
  values_from = valor
)

producao_colheita_alargada
#> # A tibble: 6 × 4
#>   pais     ano colheita  producao
#>   <chr>  <dbl>    <dbl>     <dbl>
#> 1 Brasil  2000 11890376  32321000
#> 2 Brasil  2019 17518054 101138617
#> 3 China   2000 23086228 106178315
#> 4 China   2019 41309740 260957662
#> 5 India   2000  6611300  12043200
#> 6 India   2019  9027130  27715100

A função pivot_wider() apresenta os seguinte argumentos:

  • data = para indicar qual objeto desejamos pivotar;

  • names_from = dizemos em qual coluna estão as variáveis que desejamos converter para nome de colunas. No exemplo, convertemos producao e colheita da coluna tipo;

  • values_from = indica em qual coluna estão localizados os valores das novas colunas criadas.

A Figura 5.4 ilustra o funcionamento da função pivot_wider().

Figura 5.4: Com a pivot_wider(), convertemos variáveis presentes como observações de uma coluna para nomes de colunas. Dessa forma, o conjunto de dados passa a ficar mais largo.

As funções de pivotagem apresentam outros diversos argumentos. Para saber mais sobre elas, confira a página https://tidyr.tidyverse.org/articles/pivot.html.

5.5 Separar e Unir

Quando uma célula apresenta mais de um valor, devemos separá-los para termos uma tidy data. Para isso, utilizamos a função separate() do pacote tidyr. Utilizaremos os dados do arquivo tidy3.csv para ilustrar seu uso.

prod <- read_csv(file = "dados/tidy3.csv")

prod
#> # A tibble: 6 × 3
#>   pais     ano produtividade     
#>   <chr>  <dbl> <chr>             
#> 1 Brasil  2000 32321000/11890376 
#> 2 Brasil  2019 101138617/17518054
#> 3 China   2000 106178315/23086228
#> 4 China   2019 260957662/41309740
#> 5 India   2000 12043200/6611300  
#> 6 India   2019 27715100/9027130

A produtividade de uma lavoura é dada pela razão entre a produção e a área colhida. Portanto, a variável produtividade tem os valores de produção e colheita representados na mesma célula.

Uma vez que produção e colheita são variáveis, devemos colocá-las em colunas.

separate(
  data = prod,
  col = produtividade,
  into = c("producao", "colheita"),
  sep = "/"
)
#> # A tibble: 6 × 4
#>   pais     ano producao  colheita
#>   <chr>  <dbl> <chr>     <chr>   
#> 1 Brasil  2000 32321000  11890376
#> 2 Brasil  2019 101138617 17518054
#> 3 China   2000 106178315 23086228
#> 4 China   2019 260957662 41309740
#> 5 India   2000 12043200  6611300 
#> 6 India   2019 27715100  9027130

Na função separate(), utilizamos os seguintes argumentos:

  • data = para indicar o objeto a ser separado;

  • col = indicamos qual coluna será desmembrada, no caso, a produtividade;

  • into = dizemos o nome das novas colunas que direcionaremos os valores da coluna separada, ou seja, "producao" e "colheita";

  • sep = indicamos qual o operador está separando os valores.

Perceba que a classe das novas colunas vieram como do tipo caractere, apesar de serem numéricas. Por padrão, a função separate() sempre adotará essa classe. Para corrigirmos a classe, podemos utilizar o argumento convert = TRUE, ou seja, pedir para a função adotar uma classe mais apropriada aos valores contidos nas colunas.

prod_separado <- separate(
  data = prod,
  col = produtividade,
  into = c("producao", "colheita"),
  sep = "/",
  convert = TRUE
)

prod_separado
#> # A tibble: 6 × 4
#>   pais     ano  producao colheita
#>   <chr>  <dbl>     <int>    <int>
#> 1 Brasil  2000  32321000 11890376
#> 2 Brasil  2019 101138617 17518054
#> 3 China   2000 106178315 23086228
#> 4 China   2019 260957662 41309740
#> 5 India   2000  12043200  6611300
#> 6 India   2019  27715100  9027130

Feito isso, temos a classe de números inteiros (<int>) para as colunas producao e colheita.

Também podemos separar valores de acordo com uma quantidade de caracteres. Para isso, informamos no argumento sep = a quantidade dos primeiros caracteres que desejamos quebrar.

Por exemplo, para separar os valores da coluna ano em seculo e decada, podemos passar o argumento sep = 2, ou seja, o argumento selecionará os dois primeiros caracteres dos valores contidos na coluna ano e os separará dos demais, formando as novas colunas seculo e decada.

separar_ano <- separate(
  data = prod_separado,
  col = ano,
  into = c("seculo", "decada"),
  sep = 2
)

separar_ano
#> # A tibble: 6 × 5
#>   pais   seculo decada  producao colheita
#>   <chr>  <chr>  <chr>      <int>    <int>
#> 1 Brasil 20     00      32321000 11890376
#> 2 Brasil 20     19     101138617 17518054
#> 3 China  20     00     106178315 23086228
#> 4 China  20     19     260957662 41309740
#> 5 India  20     00      12043200  6611300
#> 6 India  20     19      27715100  9027130

Caso houver um número negativo, o argumento considera o sinal de negativo como o primeiro caractere informado no argumento.

Por outro lado, temos a função unite(), também do pacote tidyr, que combina múltiplas colunas em uma única. Como exemplo, juntaremos, novamente, as colunas seculo e decada na nova coluna novamente_ano.

unite(
  data = separar_ano,
  col = "novamente_ano",
  seculo, decada,
  sep = ""
)
#> # A tibble: 6 × 4
#>   pais   novamente_ano  producao colheita
#>   <chr>  <chr>             <int>    <int>
#> 1 Brasil 2000           32321000 11890376
#> 2 Brasil 2019          101138617 17518054
#> 3 China  2000          106178315 23086228
#> 4 China  2019          260957662 41309740
#> 5 India  2000           12043200  6611300
#> 6 India  2019           27715100  9027130

No argumento col = declaramos o nome da nova coluna, seguida das colunas a serem juntadas (seculo e decada). Por fim, sep = informa qual o separador utilizado (no caso, o operador "" indica a não utilização de separador). Caso não fosse informado o argumento sep =, por padrão, a função adota o underline (_) como separador.

5.6 Resumo

Caso queira conhecer mais sobre a tidy data e sua relação com o tidyverse, recomendo o documento The tidy tools manifesto, que aborda os princípios norteadores do tidyverse, além do artigo Tidy Data, que trata de maneira teórica os conceitos de dados arrumados. Ambos os materiais são de autoria de Hadley Wickham, o idealizador do pacote tidyverse.

A seguir, agora com os dados arrumados, veremos como transformar os dados para que contenham apenas as variáveis de nosso interesse e também criar novas variáveis, a partir das existentes.


  1. Utilizar o modelo tradicional de data frame junto ao tidyverse não é um impeditivo. Porém, utilizar a tibble evita qualquer possível incompatibiliade.↩︎

  2. Quando nos referirmos a dados desarrumados, entenda como dados fora do padrão tidy data ou não-tidy, uma vez que o formato tidy é um dos possíveis para se trabalhar com dados, principalmente quando trabalhamos com o pacote tidyverse.↩︎